A plataforma de informação Vida no Centro e o Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris fazem pesquisa em parceria para levantar dados sobre as novas dinâmicas da vida urbana pós-pandemia
A Vida no Centro, plataforma de informação especializada em dados sobre o centro de São Paulo, realizou, durante três meses, um levantamento sobre os impactos da pandemia do novo corona vírus (Covid–19) na vida urbana. Esse estudo foi feito com base em entrevistas com alguns especialistas e pesquisas quantitativas, que apontaram as principais mudanças na relação da população com o espaço público e com outras questões da região central da capital paulista. O objetivo principal foi pontuar de que forma o isolamento impactou os setores do turismo, comércio, lazer, cultura, entretenimento e como isso se deu de dentro de casa para fora.
As informações levantadas foram aglutinadas num report de tendências intitulado “A Casa e a Cidade – impactos da pandemia na vida urbana, tendências e insights.” A pesquisa que compõe o conteúdo desse relatório foi feita em parceria com o Observatório de Turismo e Eventos (OTE) da São Paulo Turismo, por meio de questionário online com 1.521 respondentes. Entrevistas em profundidade com dezenas de especialistas e influenciadores das mais variadas áreas e origens – artistas, produtores culturais, poder público e empreendedores – ajudaram a montar um panorama geral da vida urbana nesse período inédito de isolamento social.
O relatório é subdividido em dois principais capítulos. O primeiro busca analisar as mudanças de padrões comportamentais dentro das casas paulistanas e seu impacto no exterior. O segundo, por sua vez, analisa o desempenho dos setores que atuam na vida fora de casa. Algumas das conclusões podem ser destacadas como as mais significativas do trabalho de pesquisa:
- Casa, o novo hub
Uma das grandes tendências geradas pela pandemia é a transformação da casa no ambiente principal da vida, ou seja, a casa se tornou o lugar de tudo: vida familiar, profissional e social. É o lugar para morar, trabalhar, empreender, se divertir, estudar e se exercitar. É a casa como potência.
- Home office híbrido
A experiência de trabalhar em casa agradou trabalhadores e empresas, o que sinaliza que essa modalidade vai se tornar uma realidade duradoura para muitos, em especial com a adoção do modelo híbrido (alguns dias em casa, outros na empresa).
- Um novo morar
A consolidação do home office gerou a necessidade de repensar o espaço doméstico. O trabalho remoto demanda uma nova casa, despertando o desejo (mais do que a necessidade) de cuidar do ambiente, adaptar cômodos e tornar os espaços mais acolhedores e também funcionais, de modo que permitam a realização das várias atividades no dia a dia.
- Home fitness
A casa também é o local para atividades físicas. Aos poucos, o hábito de se exercitar em casa vai entrando na rotina, abrindo espaço para o surgimento de plataformas que oferecem aulas online, assim como a criação de serviços digitais por grandes redes de academia.
- A redescoberta da cozinha
Com os restaurantes fechados, muitos se arriscaram cozinhando as próprias refeições. A pesquisa mostrou que 67% dos entrevistados passaram a cozinhar mais em casa, sendo que 7,2% aprenderam a cozinhar neste período. E 76% pretendem continuar comendo em casa mesmo com a reabertura dos restaurantes. Além disso, no setor de alimentação houve uma migração do comércio físico para o online. A pandemia também alterou as dinâmicas da alimentação na cidade.
- Transformação digital da cultura
“A cultura agora será híbrida”. Essa frase de Hugo Possolo, secretário municipal de Cultura de São Paulo, sintetiza a transformação do setor cultural, que agora experimenta novas linguagens, produtos e sistemas de distribuição pela internet. Várias instituições passaram a promover lives e exibir atrações online, entre elas Itaú Cultural, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e Theatro Municipal.
- Valorização do local
Uma das mudanças aceleradas pela pandemia é o fortalecimento do local, da vizinhança, o que também deve favorecer o comércio de bairro. Essa tendência, chamada de “Local Love” por agências de pesquisa nacionais e internacionais, já tinha sido mapeada havia alguns anos, mas com a Covid-19 ela vem para o primeiro plano e assim deve permanecer no pós-pandemia.
- Senso de comunidade
Passar mais tempo em casa serviu para reconectar as pessoas com o bairro onde moram, incluindo a maior interação entre vizinhos e criação de redes de solidariedade. Esse movimento foi captado, por exemplo, pela pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia, realizada pela Rede Nossa São Paulo, Ibope Inteligência e Sesc. Quando perguntados sobre as principais mudanças causadas pela pandemia e pelo isolamento social na relação com o bairro, 46% dos entrevistados disseram que passaram a dar mais valor ao comércio e aos prestadores de serviços locais.
- Nova relação com o espaço público
O uso dos espaços públicos pelas pessoas já era uma tendência nas grandes metrópoles brasileiras e mundiais antes da pandemia. Com a reabertura gradual das atividades nas cidades, esse desejo de ir para rua continuará forte, mas agora com algumas mudanças. A pesquisa indica que grande parte das pessoas terão receio de frequentar eventos com grandes aglomerações. Por outro lado, a procura por locais abertos na vizinhança, como parques, praças e locais para caminhar e passear, deve ser uma tendência nos próximos meses, o que pode resultar numa maior reivindicação por qualidade do espaço público, como as calçadas e a manutenção de parques com áreas verdes e de lazer.
- Descentralização
Com o home office como um dos vetores de fortalecimento da vizinhança, do senso de comunidade e do comércio de bairro, pode haver uma reorganização da dinâmica na cidade, criando condições para o surgimento de novas centralidades. Para exemplificar, um possível efeito disso é o fortalecimento e a diversificação da economia de bairros que antes só serviam de moradia. Em razão disso, locais em São Paulo onde se concentram as movimentações financeiras e o mercado, exclusivamente empresariais e com um comércio que funciona sustentado sob o consumo de funcionários das empresas, podem passar por mudanças.
O relatório completo da pesquisa pode ser acessado pelo link.